sábado, 1 de maio de 2010

Agridoce

Estava sozinha, caminhando lentamente num campo verde e ouvindo o cantar dos pássaros...
O azul daquele céu limpo era o mais forte e penetrante que eu já havia visto ou imaginado. Sentia uma brisa agradável lamber minha pela e agitar meus cabelos. Era um ambiente bucólico, idealizado e comum em estórias bonitas, fantásticas e sensíveis que contavam para mim nos livros e fimes infantis.
Meu vestido azul de florzinhas brancas balançava acompanhando meus passos ritmados, como num balé solitário. Eu sentia uma vontade boa de correr e saltar, rolar naquela grama úmida até cansar e dormir; e antes de dormir, eu admiraria as estrelas, já que elas - os diamantes do Universo - estariam nuas naquele céu limpo, sem nuvens nem poluição. Como estava só, sem ninguém para me repreender ou zombar de mim por eu estar estranhamente despreocupada com isso, dancei. A minha dança era feita de rodopios em torno de mim mesma e das árvores coposas de troncos espessos que ocupavam aquele paraíso encantado. Creio que se eu corresse um pouco mais empenhada, poderia flutuar.
Dormia um sono leve e tanquilo, e ao contrário do que se pensa, eu não estava feliz. Mas também não estava triste. Eu só não estava. Eu não sentia dor, não sentia prazer... Eu só sentia a plenitude do Universo, a beleza que eu via nas formas e na luz era suficiente naquele momento, mas eu continuava sem alegria e sem tristeza.
A contemplação me deixou pasma e afogada numa sensação indescritível. Eu pensei "como tudo pode ser tão perfeito por aqui?". Estava perplexa, surpresa. Como eu não havia notado até ali que eu só precisava de algumas respostas para ser completa? Mas... como encontrar as respostas se eu não sei quais são as perguntas?!
E foi nessa situação que eu acordei. Acordei com frio, no meu quarto... A janela estava aberta, mas não entrava o brilho do sol. Levantei-me depressa em busca de algo que aquecesse meu corpo e fechei a janela. Nesse instante ouvi alguns latidos, alguns carros passando e a vassoura varrendo a calçada. Mas não levantei nem tentei voltar pro sonho, só escrevi.

4 comentários:

Anônimo disse...

Lindo texto!

Forte,intenso e,ainda assim,delicado.

Izabella Viana disse...

Não sei porque, mas me emocionei com esse texto.

Felipe Braga disse...

Lindo, Bárbara!
Poderia passar a noite inteira aqui te lendo, tamanha a satisfação que sinto ao deparar-me com tanta sensibilidade.
Teu dom se renova, e você renasce com mais um post maravilhoso.
Perfeito, Barbie!
Beijos.

fatoSempalavras disse...

em certos momentos da vida, tudo é meio agridoce, né?
mas, saber que uma pessoa como vc, de "vestivo azul de florzinhas brancas", existe, é ter a certeza de que a vontade de ser feliz vai se concretizar um dia....nesse dia tudo será somente doce...teremos somente o açúcar em nossas vidas, fecharemos as feridas!