Até na linguagem ele é cinematográfico. John Perkins teve uma vida digna de roteiro hollywoodiano, só que sua história não é ficção. “Confissões de um assassino econômico” é a autobiografia de um homem que trabalhou para o fortalecimento do imperialismo estadunidense e, consequentemente, para a manutenção do sistema capitalista no planeta. Com falsos argumentos humanitários, Perkins convencia líderes de países periféricos a aceitar empréstimos do FMI e do Banco Mundial. Ele os seduzia com promessas de crescimento econômico e desenvolvimento social, fazia cálculos absurdos e simulava resultados positivos para conseguir a confiança dos mais pobres, fazendo-os contrair dívidas astronômicas com os Estados Unidos.
Embora as visitas a países como Equador e Indonésia, entre as décadas de 60 e 70, tenham servido para que Perkins conhecesse um pouco da cultura das populações locais, o assassino econômico não abriu mão de sua missão. No livro o autor mostra-se arrependido e acredita que sua publicação diminua sua culpa, mas o que está feito está feito. O fato é que John Perkins assume que colaborou para a desigualdade entre os países, para a miséria dos subdesenvolvidos e para a subserviência de milhões de pessoas ao cruel império global. Projetos de expansão da infraestrutura dos transportes, telecomunicações e de produção de energia elétrica seduziram povos e criaram neles a esperança de entrar para a lógica do mundo globalizado e rico. Quando na verdade, o que estava acontecendo era um golpe do que o próprio Perkins chama de “corporatocracia”.
Esse termo é usado no livro para designar a rede formada por grandes empresas multinacionais e pelo governo dos Estados Unidos. Uma dessas empresas contratou Perkins com o cargo de economista, sendo que ele se formou em Administração. Vaidoso, aceitou o convite de um amigo da família de sua esposa Ann para trabalhar com ele em algo que o daria alto retorno financeiro. Por trás das ofertas e propostas de desenvolvimento, o objetivo verdadeiro de um assassino econômico era firmar contratos lucrativos para as firmas multinacionais de construção e levar os países a fazer empréstimos que eles nunca seriam capazes de pagar. Em sua função, Perkins exercia o papel de um agente corporativo que deliberadamente exagerava o potencial de retorno econômico desses investimentos. Perkins se aproximava de políticos e famílias poderosas dentro desses países, pois de acordo com a lógica do esquema, apenas essa minoria se beneficiaria com tais negócios. As oligarquias enriqueceriam às custas da decadência acelerada do padrão de vida da maior parte da população.
No momento em que os gestores dos países endividados percebiam que pagar os débitos havia se tornado uma opção inviável, Perkins retornava à cena junto às agências internacionais de empréstimos e as grandes empresas então agiam para controlar os recursos e a política econômica da nação devedora. Claro que isso é uma das estratégias que fazia parte do plano imperialista. O relato de Perkins denuncia que, na atual fase do capitalismo, conquistar territórios e influenciar povos não é mais missão dos exércitos e das lutas armadas, mas sim da ocupação econômica e simbólica (portanto cultural) através das grandes corporações. Nesse jogo de poderes, Perkins foi uma peça-chave do lado vencedor.